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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Contrafábula da Cigarra e da Formiga

 

Adaptação feita por Pedro Bandeira do texto do escritor português Antônio A. Batista

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A formiga passava a vida naquela formigação, aumentando o rendimento da sua capita e dizendo que estava contrbuindo para o crescimento do Produto Nacional Bruto Bruto. Na trabalheira do investimento, sempre consultando as cotações da bolsa, vendendo na alta e comprando na baixa, sempre atenta aos rateios e às subscrições. Fechava contratos em Londres já com o pé no Boeing para Frankfurt ou Genebra, para verificar os dividendos das suas contas numeradas.

Mas vivia também roendo-se por dentro ao ver a cigarra, com quem estudara no ginásio,  metida em shows e boates, sempre acompanhada de clientes libidinosos do Mercado Comum.

E a formiga vivia a dizer por dentro:

- Ah, ah! No inverno, você há de aparecer por aqui a mendingar o que não poupou no Verão! E vai cair dura com a resposta que tenho preparada para você!

Ruminando sua terrível vingança, voltava a formiga a tesourar e entesourar investimentos e lucros, incutindo aos filhos hábitos de poupança, consultando advogados e tomando vasodilatadores.

Um dia, quando voltava de um almoço no La Tambouille com os japoneses da informática, encontrou a Cigarra no shopping Iguatemi, cantarolando como de costume.

La vem ela dar a dua facada, pensou a formiga. “ Ah,ah, chegou a minha vez!”

Mas a cigarra aprocimou-se  só querendo saber como estava ela e como estavam todos no formigueiro

A formiga, remordida, preparando o terreno para a sua vingança, comentou:

- A senhora andou cantando na tevê todo este verão, não foi, Dona Cigarra?

- É claro!- disse a cigarra- Tenho um programa semanal.

- Agora no inverno é que vai ser mau- continuou a formiga com toda a maldade na voz.- A senhora não depositou nada no banco, não é?

- Não faz mal. Os meus discos não saem das paradas.  E acabei de fechar um contrato com o Olympia  de Paris por duzentos mil dólares…

- O quê?!- exclamou a formiga- A senhora vai ganhar duzentos mil dólares no inverno?

- Não. Isso só em Paris. Depois tem a eexcursão em Nova York, depois Londres, depois Amsterdam…

Aí a formiga pensou no seu trabalho, nas suas azias, na sua vida terrivelmente cansativa e nas suas ameaças de enfarte, enquanto aquela inútil cigarra ganhava tanto cantando e se divertindo! E perguntou:

- Quando a senhora embarca para Paris?

- Na semana que vem…

- E pode me fazer um favor? Quando chegar a Paris, procure lá um tal de La Fontaine. E diga-le que eu quero que ele vá para o raio que o parta!

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